Contra o Retrocesso na Moderação de Conteúdo da Meta e os Ataques à Regulação Democrática do Espaço Digital

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Nós, os signatários, manifestamos nosso mais veemente repúdio ao recente pronunciamento de Mark Zuckerberg, CEO da Meta, no qual ele anuncia medidas que representam um grave retrocesso na já problemática moderação de conteúdo nas plataformas Facebook, Instagram e Threads. Sob o pretexto de “restaurar a liberdade de expressão”, as propostas delineadas não apenas colocam em risco grupos vulnerabilizados que usam esses serviços, mas também enfraquecem anos de esforços globais para promover um espaço digital um pouco mais seguro, inclusivo e democrático.

Zuckerberg propõe substituir checadores de fatos por um sistema de “notas comunitárias” (seguindo o modelo problemático do X) e pretende reduzir drasticamente filtros de moderação, priorizando apenas violações “graves” (sobre terrorismo, exploração sexual infantil, drogas e fraudes). Ou seja, a empresa sinaliza que não terá mais ações de moderação de conteúdos contra desinformação, discurso de ódio e outras políticas de proteção a favor das pessoas mais vulnerabilizadas. O CEO da Meta explicitamente admite aceitar os riscos de que essas novas políticas possam filtrar menos conteúdos nocivos do que as anteriores. 

Atualmente, já é notável ao redor do mundo serem falhas as Políticas de Moderação de conteúdo das redes da Meta, dando margem à práticas de violência de gênero, afetando a proteção de crianças e adolescentes, crescimento de grupos que propagam discurso de ódio e desinformação, além de outras violações de direitos humanos. As novas medidas propostas pioram a situação ao negligenciar os impactos reais dessas práticas de violência online, além de abrir caminho para a proliferação de conteúdos prejudiciais que desestabilizam sociedades e minam processos democráticos. 

Outra mudança anunciada foi a adoção de uma abordagem caracterizada como “mais personalizada” para conteúdos políticos, ampliando a recomendação dessas mensagens. Em que pese a ausência de clareza sobre a medida, ela sinaliza a ampliação das “bolhas”, em detrimento do debate democrático aberto sobre temas de relevância pública. Estudos já mostraram como efeitos bolha potencializam a construção e reprodução de visões baseadas em desinformação, discurso de ódio e conteúdo prejudicial que limitam o debate democrático e a construção de sociedades mais justas.

O discurso da Meta se alinha com uma retórica preocupante que afronta iniciativas regulatórias legítimas e necessárias de governos e da sociedade civil em diversas partes do mundo, incluindo a América Latina, generalizando essas ações como “censura” ou “ataques a empresas estadunidenses”. Ao fazer isso, a Meta ataca de forma aberta os esforços soberanos e democráticos de nações em proteger suas populações contra os danos provocados pelas Big Techs. Com isso, prioriza, mais uma vez, os interesses estadunidenses e os lucros de sua corporação em detrimento da construção de ambientes digitais que prezam pela segurança de seus consumidores.

A proposta de “trabalhar com o presidente Trump para combater regulações ao redor do mundo” explicita uma posição alinhada a interesses que beneficiam as plataformas digitais por serem contrárias ao progresso regulatório que visa proteger direitos humanos fundamentais ao responsabilizá-las pelas externalidades negativas de seus modelos de negócios. Ou seja, ao contrário da proposta de “reduzir a tendência ao viés” (da moderação de conteúdo), essa política por si só é enviesada para uma ideologia contrária a direitos fundamentais. A Meta poderia promover a liberdade de expressão por meio de medidas de transparência e accountability, no entanto, opta por “simplificar” as medidas de moderação de conteúdo alinhado ao discurso propagado pelo recém-eleito governo de Trump. 

O anúncio de Zuckerberg é emblemático de um problema estrutural: a concentração de poder nas mãos de corporações que atuam como árbitros do espaço público digital, enquanto ignoram as consequências de suas decisões para bilhões de usuários. Esse retrocesso não pode ser visto como um mero ajuste de políticas corporativas, mas como um ataque frontal desse monopólio de plataformas digitais às conquistas de uma internet mais segura e democrática.

Reafirmamos que a liberdade de expressão não pode ser usada como escudo para legitimar práticas que promovam violência, desigualdade e desinformação. O recente pronunciamento do CEO da Meta demonstra como a autorregulação das grandes plataformas digitais tem se mostrado insuficiente, sujeitando a adoção, atualização ou suspensão de qualquer política ao arbítrio unilateral das empresas. Cabe aos Estados e à sociedade civil fortalecer mecanismos regulatórios públicos e sociais que coloquem as pessoas e os direitos humanos acima dos lucros.

Exigimos que as plataformas lideradas por Mark Zuckerberg revejam essas medidas e assumam sua responsabilidade no combate ao discurso de ódio, à desinformação e à exploração online. Também conclamamos governos e organizações ao redor do mundo a intensificar os esforços para criar um arcabouço regulatório global que proteja os direitos digitais e garanta que o espaço digital seja um ambiente seguro, justo e democrático para todos.

Este é um momento crucial. O futuro do espaço digital depende de nossa capacidade coletiva de resistir a retrocessos e avançar em direção a uma governança digital centrada nas pessoas e no planeta.

  1. ABI – Associação Brasileira de Imprensa
  2. ABJD – Associação Brasileira de Juristas Pela Democracia
  3. Abong – Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais
  4. Ação da Cidadania – Comitê Pará
  5. Ação Educativa – Assessoria, Pesquisa e Informação
  6. ADUR/RJ – Associação Docente da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
  7. AGC Consultoria
  8. Agência Oribá
  9. AJURD-Associação de Juristas Pela Democracia
  10. AKAFans
  11. Aláfia Lab
  12. Aliança Nacional Lgbti+
  13. AMAB – Associação de Moradores e Amigos de Botafogo
  14. AMARC Brasil – Associação Mundial de Rádios Comunitárias
  15. AMARU – OBSERVATÓRIO LATINO AMERICANO DE COMUNICAÇÃO, MÍDIAS E DIREITOS HUMANOS/ DECOM/UFRN.
  16. AMC – Associação Mulheres na Comunicação
  17. ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais
  18. ANDI – Comunicação e Direitos
  19. Aned – Associação Nacional dos Empregados da Dataprev
  20. APUBH – Sindicato dos professores de universidades federais de Belo Horizonte, Montes Claros e Ouro Branco.
  21. Aqualtune Lab
  22. ARAYARA.org/ Instituto Internacional ARAYARA
  23. ARTIGO 19 Brasil e América do Sul
  24. Ass. Internacional Maylê Sara Kali – AMSK/Brasil
  25. Associação Brasileira de Comunicação Pública – ABCPública
  26. Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo (ABej)
  27. Associação Brasileira de Medicina Personalizada e de Precisão/Brazilian Personalized and Precision Medicine Association
  28. Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação
  29. Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor)
  30. Associação Brasileira de Rádios Comunitárias – Abraço Brasil
  31. Associação Brasileira de Televisão Universitária
  32. Associação Cultural Alquimídia
  33. Associação das Paradas do Orgulho LGBT de Salvador ASPOLGBT
  34. Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE)
  35. Associação Namazonia
  36. Barracon Digital
  37. Bloco Não é Não – Goiânia, Goiás/Brasil
  38. Brasil de Fato RS
  39. Business and Human Rights Resource Centre
  40. Caliandra – Coletivo de Mulheres do Cerrado
  41. Casa Marielle Franco Brasil
  42. Casa Socialista
  43. Cátedra Sustentabilidade – Universidade Federal de São Paulo
  44. CC/DC – Centro de Comunicação, Democracia e Cidadania da Universidade Federal da Bahia
  45. Centro de Cultura Luiz Freire – CCLF
  46. CENARAB – Centro Nacional de Africanidade Resistência Afro Brasileiro
  47. Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé
  48. Centro de Estudos de Segurança e Cidadania – CESeC
  49. Centro de estudos e pesquisas em ciências do comportamento
  50. Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho da USP
  51. Centro ICEP Universidad Nacional de Quilmes
  52. Centro Palmares de Estudos e Assessoria por Direitos
  53. CEPAD – Centro de Estudos e Pesquisa em Análise do Discurso – UFBA
  54. Ciranda Comunicação / Associação Internacional de Comunicação Compartilhada (Compas)
  55. Coalición por el Fortalecimiento de la Libertad de Expresión Chile
  56. Código Não Binário
  57. Coding Rights
  58. Colégio Multi
  59. Coletiva Periféricas
  60. Coletivo Afro Acadêmico
  61. Coletivo Digital
  62. Coletivo Pão Com Ovo
  63. Coletivo População Negra e Saúde Digital
  64. Coletivo Soylocoporti
  65. Compolítica – Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política
  66. Comunidade Batista do Caminho (CBC)
  67. Comunidade Praxis
  68. Conectas Direitos Humanos
  69. Conexion Educativa
  70. Conjunta
  71. Cooperativa Sulá Batsú
  72. Cooperativa Tierra Común – México
  73. Coordenação Nacional dos Interesses das Pessoas com Deficiência/PSB Inclusão.
  74. CoPai – Coalizão Licença Paternidade
  75. CRIAR Brasil
  76. Cunhataí Serviços e Comunicação
  77. CUT – Central Única dos Trabalhadores
  78. Cyber Leviathan. Observatório do Mundo em Rede
  79. Data Privacy Brasil
  80. data_labe
  81. Digital Action
  82. Dimicuida
  83. DiraCom – Direito à Comunicação e Democracia
  84. Ebaplay Ind. e Com. Ltda
  85. Educadora Menstrual
  86. ELA-IA (Estratégia Latino-Americana de Inteligência Artificial)
  87. Entrepalavras Produção de textos
  88. Escola de Educação Infantil Educar para o Futuro
  89. Estúdio RJ
  90. Fazer Educação
  91. Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino no Estado do Rio de Janeiro, Feteerj
  92. Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ
  93. Federação Nacional dos Sociólogos -Brasil – FNS-B
  94. Fitt-livre
  95. FNDC – Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
  96. FNDC – Roraima
  97. Fórum de Entidades do Campo
  98. Fórum Nacional da Sociedade Civil nos Comitês de Bacias Hidrográficas
  99. Fórum para Tecnologia Estratégica dos BRICS+
  100. Fórum Permanente de Educação Inclusiva do Espírito Santo (FPEIES)
  101. Fundación Huaira – Equador
  102. Fundación Internet Bolivia.org
  103. Fundación Karisma
  104. Fundación Taiguey – República Dominicana
  105. Futurability – Consultoria, Educação Executiva e Pesquisa
  106.   Garotas do Motion®
  107. GEPDiM/UFSC/CNPq
  108. GEPEADS/UFRRJ – Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental, Diversidade e Sustentabilidade
  109. Grupo de Pesquisa DESCOM – Insurgências Decoloniais, Comunicação, Artes e Humanidades
  110. Grupo de pesquisa Educação, Comunicação e Tecnologias – GEC/FACED/UFBA
  111. Grupo de Pesquisa em Jornalismo, Direito e Liberdade (USP)
  112. Grupo de pesquisa Mídia-Educação e Comunicação Educacional (COMUNIC) – UFSC
  113. Hiperderecho
  114. Hzen do Brasil
  115. IBIDem – Instituto Beta para a Internet & a Democracia
  116. Idec – Instituto de Defesa de Consumidores
  117. InfoCria
  118. Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial
  119. Iniciativa Educação Aberta – UnB
  120. Instituto Alana
  121. Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – Ibase
  122. Instituto Brasileiro de Políticas Digitais – Mutirão
  123. Instituto Cidade Democrática
  124. Instituto de Pesquisa em Direito e Tecnologia do Recife – IP.rec
  125. Instituto de Referência em Internet e Sociedade – IRIS
  126. Instituto Democracia em Xeque
  127. Instituto NUPEF
  128. Instituto Panamericano de Derecho y Tecnología – IPANDETEC
  129. Instituto Physis – Cultura & Ambiente
  130. Instituto Silvia Lane – Psicologia e Compromisso Social
  131. Instituto Sou da Paz
  132. Instituto Telecom
  133. Instituto Teofilo centro clínico-terapêutico para o desenvolvimento humano
  134. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
  135. International Center for Information Ethics
  136. Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social
  137. IPANDETEC
  138. Jararaca: Laboratório de Tecnopolíticas Urbanas – PUCPR
  139. Jornalistas Livres
  140. Jubarte Comunica
  141. Justiça Global
  142. KOINONIA – Presença Ecumênica e Serviço
  143. Laboratório de Cultura Digital – UFPR
  144. Laboratório de Políticas de Comunicação – UnB
  145. Laboratório de Políticas Públicas e Internet – LAPIN
  146. Laboratório do Futuro – UFC
  147. Lavits – Rede Latino-americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade
  148. Linha ECO do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina ECO/PPGE/UFSC
  149. Logical Soft Informática Ltda
  150. MIDIARS – Laboratório de Pesquisa em Mídia, Discurso e Análise de Redes
  151. MM&OE EDITORA
  152. Motriz Sociocultural
  153.  Movimento Desconecta
  154. Movimento FeliciLab
  155. Movimento Nacional de Direitos Humanos – MNDH Brasil
  156. Movimento Negro Unificado (MNU)
  157. Núcleo de Comunicação e Educação da USP
  158. Núcleo de Jornalismo e Audiovisual (NJA)
  159. Núcleo de Pesquisa em Didática da História e Interculturalidade Crítica (NUPEDHIC) – Brasil
  160. Núcleo Digital – Tecnologias Democráticas
  161. Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa, Ensino e Extensão em Direitos Humanos – UFG
  162. OBSERVACOM (Observatorio Latinoamericano de Regulación, Medios y Convergencia)
  163. Observatório da Ética Jornalística (objETHOS)
  164. Observatório Edutecia
  165. ONG Amaranta
  166. Open Knowledge Brasil
  167. Partido dos Trabalhadores de Anchieta – SC
  168. Pavio Curto – Coletivo de Mídia Alternativa
  169. Peditaria Integral
  170. Pimentalab – Laboratório de Tecnologia, Política e Conhecimento da Unifesp
  171. Plataforma Conjunta
  172. Plataforma Rupturas
  173. PrograMaria
  174. Red PaPaz
  175. Red Tierra Común
  176. Rede de Jornalistas pretos pela Diversidade na Comunicação
  177. Rede de mães atípicas vitimas do estado
  178. Rede de Pesquisa Currículo e Tecnologia- REPERCUTE/UFSC
  179. Rede Inovação e Território
  180. Rede Jornalismo UFF de Integridade da Informação – Grupo PET/MEC
  181. Rede Latinoamericana de Investigadores en Comunicación Organizacinal – RedLAco
  182. REDE Matraga de Combate a manipulaçao de Subjetividades
  183. Rede Nacional de Combate à Desinformação – RNCD Brasil
  184. Redes Cordiais
  185. RegulAÍ – Grupo de Pesquisas em Direito, Tecnologias Digitais, Regulação e Inteligência Artificial
  186. ReLAEE – Rede Latino Americana Espaço e Economia
  187. Repórteres Sem Fronteiras (RSF)
  188. Secretaria de Inclusão e Acessibilidade da Universidade Federal do Espírito Santo
  189. Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná
  190. Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SindJoRS)
  191. Sindicato dos Jornalistas Prof. do Mun. RJ
  192. Sindicato dos Sociólogos e Sociólogas do Estado do Rio de Janeiro
  193. Sindicato dos Trabalhadores rurais agricultores (as) familiares de Barreiras
  194. Sinpro-DF – Sindicato dos Professores do Distrito Federal
  195. Sleeping Giants Brasil
  196. Sursiendo, Comunicación y Cultura Digital – México
  197. TechMOV (Coletivo de Tecnologia ligado ao Movimento Internacional de Juventudes)
  198. TEDIC
  199. Teia de Criadores
  200. Themis – Gênero, Justiça e Direitos Humanos
  201. The Tor Project
  202. TRAMPO Pesquisa
  203. Universidade Federal do Pará – o Programa de Pós-Graduação em Currículo e Gestão da Escola Básica (PPEB) e Programa de Pós-graduação em Educação e Cultura (PPGEDUC)
  204. Usuarios Digitales
  205. Vagas Ux
  206. Vale Verdejante
  207. Vórtice Estúdio
  208. Wiki Movimento Brasil