Mirando a eleição presidencial, o Facebook lançará, na próxima semana, seu programa de verificação da veracidade de notícias que circulam na plataforma no Brasil. A responsabilidade caberá a duas agências de checagem — Lupa e Aos Fatos —, que terão acesso às notícias denunciadas como falsas pela comunidade de usuários da rede. Se confirmadas como fake news, o algoritmo diminuirá o alcance de compartilhamentos das notícias. De acordo com o próprio Facebook – e apenas ele, este mesmo mecanismo reduziu em 80% o alcance do noticiário falsificado nos Estados Unidos.
Daqui, ficam algumas perguntas:
- O que será considerado como verdade e mentira?
- Como poderemos verificar que uma notícia teve seu alcance diminuído por esse mecanismo?
- Ficará claro o que foi levado em questão para sinalizar a notícia como falsa?
Processos de desinformação vão muito além de fake news. Podem ser causados por informações imprecisas, tendenciosas ou até mesmo por erros de apuração, tanto na mídia alternativa quanto nos meios tradicionais.
Não convém sustentar uma crença de neutralidade sobre os acontecimentos, no qual seja possível chegar a uma notícia que reflita 100% a verdade. A palavra sempre foi o instrumento político por excelência e ninguém é isento. Por isso, do ponto de vista democrático, o contraditório e o dissenso são tão fundamentais.
Mas também é necessário que sempre existam formas de controlar quem controla qualquer aspecto do fazer político, sendo o discurso o principal deles.
Ou seja: de nada adianta estabelecer uma espécie de “sistema judiciário” do Facebook se seus métodos e conceitos não forem absolutamente transparentes para os usuários. Ainda mais importante do que a verificação de notícias em si é o detalhamento metodológico e a abertura de possibilidades de contestação de tal procedimento.
Para coroar os esforços do Facebook em evitar sua desvalorização por quase se confundir com um poço de desinformação e ruído, seu fundador, Mark Zuckerberg, anunciou que a plataforma vai começar a classificar as organizações de notícias a partir de sua confiabilidade. Fica o nosso alerta: quando juiz e parte se confundem na mesma figura, a liberdade de expressão sai perdendo. Já vimos esse filme muitas vezes ao longo da História.