#12 Educação Vigiada
A pandemia de covid-19 potencializou o ensino remoto. Em 2020, os sistemas educacionais brasileiros, públicos ou privados, se viram obrigados a manter suas atividades apenas online, à distância. A maior parte das escolas e suas comunidades não estavam preparadas. Além da gritante desigualdade de acesso à internet existente no país, gestores tiveram que optar pelo primeiro serviço digital disponível à sua frente. Desde 2015, o Google for Education está no Brasil para “transformar a maneira como professores e alunos inovam juntos com as ferramentas gratuitas e seguras do GSuite”. Nada no capitalismo de vigilância é de graça. A falta de transparência na intensiva coleta e uso massivo de dados pessoais e metadados da comunidade escolar que usufrui do serviço tem um preço caro a ser pago: a privacidade. Este modelo experimental na educação pode ainda incorrer em consequências críticas a médio e longo prazo. Ao aceitar a educação pública mediada por uma bigtech, sem principiar uma formação cidadã, a conivência do Estado vai mirar num formato de baixo custo, com verniz moderno de inclusão digital, mas vai acabar fornecendo grandes bases de dados, que serão tratadas e comercializadas no mercado de marketing ao bel-prazer do Google (ou de outras empresas de tecnologia). Para além dos ensinos fundamentais e médios, a presença intensiva das bigtechs no ensino superior púbico, centro da produção intelectual e de conhecimento do país, também revela um problema estratégico de soberania nacional. Levantamento do projeto Educação Vigiada aponta que 74% das universidades públicas e secretarias estaduais de educação têm seus servidores de e-mail alocados em máquinas externas da Google e da Microsoft. Mas existe resistência, como os Recursos Educacionais Abertos (REAs), feitos com software livre e código aberto, para contra hegemonizar aos modelos educacionais vigilantistas. O importante é que os tomadores de decisões da educação brasileira, professores, pedagogos, estudantes e toda a comunidade escolar tome conhecimento desse quadro perigoso. O Batalhas Digitais #12 - Educação Vigiada recebe Priscila Gonzales, fundadora e diretora da Instituto EducaDigital; e Leonardo Cruz, professor e pesquisador da Universidade Federal do Pará (UFPA) e membro da Rede Latino Americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade (Lavits). A condução do podcast é do jornalista Enio Lourenço, da Coalizão Direitos na Rede.