A Coalizão Direitos na Rede é uma rede de entidades que reúne mais de 50 organizações acadêmicas e da sociedade civil em defesa dos direitos digitais, tendo como temas principais de atuação: acesso, liberdade de expressão, proteção de dados pessoais e privacidade na Internet.


Pautas que defendemos

Acesso

Dados Pessoais

Liberdade de Expressão

Privacidade e Vigilância

Eleições

Inteligência Artificial

Primeiro Manifesto CDR: Declaração por Direitos na Rede (13/07/2016)

Atualização do Manifesto: 08/12/2025

Manifesto CDR
Direitos digitais fortalecem os direitos humanos e a democracia

Conexões digitais são fundamentais para o modo de vida contemporâneo. Nos ambientes digitais, as pessoas se relacionam, se informam, se divertem, fazem trocas materiais e simbólicas, se organizam e se realizam como seres autônomos. Para ser efetiva, ampla e justa, a vida digital precisa estar apoiada em direitos sociais e valores humanos. Essas potencialidades, contudo, são limitadas pela desigualdade no acesso à internet e pela corporatização da rede. É preciso vincular potencialidades e vivências com a garantia de direitos e justiça social e ambiental, respeitando as diferentes culturas e promovendo a tecnodiversidade. 

Somos a Coalizão Direitos na Rede (CDR), uma aliança aberta e em constante construção, formada por organizações que se preocupam com direitos humanos em contextos digitais e que atuam na defesa, promoção e ampliação desses direitos. Desde 2016, incidimos politicamente para que o acesso à internet seja universal, a neutralidade de rede seja respeitada, e as liberdades de informação e expressão, garantidas. Também lutamos por uma internet mais segura, por respeito à privacidade das pessoas e por um modelo de governança digital efetivamente democrático, inclusivo e participativo. Atuamos decisivamente para a qualificação do debate nacional sobre esses temas, organizamos campanhas públicas, alertamos a população e as autoridades sobre riscos, e ajudamos a formular soluções políticas, técnicas e legislativas. 

Entendemos que os direitos digitais são parte integrante dos direitos humanos, e permitem que as pessoas possam exercer seus direitos fundamentais relacionados às novas tecnologias, cada vez mais transversais aos diversos aspectos da vida social e fundamentais ao exercício da cidadania. Inclusão digital, acesso, autogestão de redes, conectividade significativa, privacidade, proteção de dados pessoais, não-discriminação, liberdade de expressão, integridade da informação e segurança online são alguns desses direitos digitais. 

No momento de sua criação em 2016, a CDR tinha como objetivo mobilizar a participação popular digital contra investidas do poder econômico, de corporações, do Estado e de grupos que tentavam reduzir ou anular os direitos digitais. Os anos mostraram que a CDR foi além, tornando-se um canal que vocaliza os múltiplos interesses da sociedade civil diante dos intensos processos de transformação digital, plataformização e mediação das relações sociais por sistemas automatizados. Diferente de outras alianças, a CDR é uma coalizão da sociedade civil, guiada pelo interesse público e determinada a defender os direitos humanos nos contextos digitais. 

Grande parte das ameaças percebidas naquele período ainda pairam sobre os direitos digitais no Brasil, mas outros desafios se apresentam. O setor de tecnologia está cada vez mais concentrado, com grandes empresas cada vez mais poderosas e presentes no cotidiano das pessoas. A necessária regulação econômica das plataformas esbarra na lentidão do Poder Executivo, no Legislativo cada vez mais influenciável ao prejudicial lobby do setor privado, e no Poder Judiciário que nem sempre compreende a gravidade e a

necessidade de ação. A falta de aplicação efetiva do Marco Civil da Internet e da Lei Geral de Proteção de Dados aos ambientes digitais expõe a riscos os cidadãos brasileiros, ao mesmo tempo em que a inovação é favorecida por leis e políticas públicas mais voltadas ao fomento comercial que à vinculação a um projeto político soberano e à proteção de direitos. Políticas de segurança pública apelam a soluções tecnológicas vigilantistas, produzindo efeitos nefastos de discriminação e repetidas violações de direitos civis. Não há apenas uma alienação de grande parte da população, como também uma total assimetria de poder entre setor privado e sociedade civil. São perceptíveis, por exemplo, o fechamento de canais e instituições multissetoriais, a diminuição da colaboração e dos espaços de diálogo. Falta transparência nos processos que determinam os rumos tecnológicos no país e no mundo, e essa opacidade não só afronta o direito das pessoas de saberem o que se passa na sociedade em que habitam, mas também contribui para um conjunto inaceitável de violações de direitos. O país sofre ainda com desigualdade no acesso a infraestruturas digitais que permitam conectividade significativa e com a falta de políticas públicas afirmativas e promotoras de direitos no contexto digital, que permitam amplo letramento digital e o enfrentamento ao racismo online, à colonização de dados, à desinformação e à opacidade algorítmica. No plano geopolítico, o oligopólio das big techs torna mais aguda a dependência tecnológica brasileira de soluções estrangeiras, o que ajuda a esfacelar mais rapidamente a nossa soberania digital. 

Diante disso, a CDR renova seus compromissos de luta por uma internet mais universal, diversa e humana, e por tecnologias que promovam conexões seguras e que favoreçam a justiça social e ambiental, a autogestão, a pluralidade, a diversidade, o senso crítico, a democracia e a autonomia das pessoas. 

São muitas as lutas a serem travadas agora e nos próximos anos pela sociedade brasileira para garantir direitos humanos nos contextos digitais. Essas disputas passam inevitavelmente por afirmar a liberdade de expressão frente a investidas que buscam desvirtuar a compreensão desse princípio. É necessário também rediscutir direitos autorais e soberania digital, implementar formas de regulação econômica (para tratar de temas concorrenciais, por exemplo) e regular o trabalho no contexto digital. O desenvolvimento econômico e a inovação tecnológica devem ser perseguidos, mas de forma justa e democrática, humana e social. O amplo acesso à cultura, à informação e ao conhecimento são inegociáveis e compreendem parte importante da luta por dignidade humana, em todos os contextos, inclusive online. Outro tema fundamental a ser enfrentado é o impacto da digitalização no aprofundamento da crise ambiental, a despeito do discurso solucionista das corporações, sendo necessário rever os fundamentos dessa dinâmica, na perspectiva da afirmação de uma sociedade com justiça social e ambiental. 

As lutas que unem tecnologia e sociedade envolvem também a proteção e a garantia de direitos digitais de crianças e adolescentes, a adoção de códigos e protocolos abertos, a autogestão de redes comunitárias de acesso, a busca da inovação no setor público com investimentos em infraestruturas digitais brasileiras, a participação no desenvolvimento e regulação da inteligência artificial, a defesa da integridade da informação e a defesa, inclusive, do direito à desconexão. 

Consciente da necessidade de aperfeiçoamento dos nossos marcos regulatórios e políticas públicas e da vigília constante pela manutenção dos direitos digitais no Brasil, a CDR reforça os princípios de ação expressos em 2016 através deste Novo Manifesto. 

A CDR se coloca como um espaço de liderança e referência para as pautas dos direitos digitais em intersecção com outros movimentos sociais. A CDR articula, influencia, mobiliza, promove o diálogo, e ajuda a formular entendimentos e regulações sobre tecnologias. 

Entendemos que a proteção e promoção dos direitos digitais fortalecem os direitos humanos e a democracia, e demarcam pactos sociais e civilizatórios essenciais. Entendemos ainda que as disputas simbólicas do século XXI acontecem e acontecerão nas

ruas e nas redes, em interações presenciais e mediadas pelas tecnologias. Por isso, a construção de sociedades mais inclusivas, porosas, dinâmicas, equânimes, livres e emancipatórias depende da garantia de que as tecnologias se guiem mais por fatores humanos que por interesses financeiros, mais por preocupações coletivas que por pressões exclusivistas. A Coalizão Direitos na Rede conclama a sociedade brasileira a travar essas lutas para que as vidas dentro e fora dos ambientes digitais sejam plenas, justas e para todas as pessoas. Defender direitos digitais é fortalecer os direitos humanos e a democracia. 

Brasil, dezembro de 2025

Somos uma rede de entidades

Ação Educativa – Assessoria, Pesquisa e Informação

Actantes

Amarc Brasil – Associação Mundial de Rádios Comunitárias

ANPED – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação

AqualtuneLab – Cruzando o Atlântico

Artigo 19

Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação – ABPEducom

Associação Data Privacy Brasil de Pesquisa

Casa da Cultura Digital de Porto Alegre

Casa Hacker

Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé

Ciranda da Comunicação Compartilhada

Coding Rights

Coletivo Digital

Creative Commons Brasil

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DiraCom – Direito à Comunicação e Democracia

Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação – FNDC

Monitor do Debate Político no Meio Digital / GPoPAI USP

Idec - Instituto de Defesa de Consumidores

Instituto Aaron Swartz

Instituto Alana

Instituto Bem-Estar Brasil

Instituto de Pesquisa em Direito e Tecnologia do Recife – IP.rec

Instituto de Referência em Internet e Sociedade – IRIS

Instituto Nupef

InternetLab – Centro de pesquisa em direito e tecnologia

Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social

LAPCOM – UnB – Laboratório de Políticas de Comunicação da UnB

LAPIN – Laboratório de Políticas Públicas e Internet

LAVITS - Rede latina-americana de estudos sobre vigilância, tecnologia e Sociedade

Me Representa

Movimento Mega

O Panóptico – CESeC

Observatório da Ética Jornalística – objETHOS

Open Knowledge Brasil

Transparência Brasil

Wikimedia Brasil